Por que os processos de divórcio são tão desgastantes?
Recebemos todos os dias em nossos escritórios, pessoas com as mais variadas questões para serem resolvidas de forma judicial. Não é raro conseguirmos demonstrar soluções por via administrativa, ou seja, sem a necessidade do impulso jurisdicional. As questões ligadas às relações de família são as que mais trazem forte dose emocional.
É impressionante como as pessoas modificam tão radicalmente a forma de ver o parceiro ou a parceira de anos quando resolvem se separar, seja pelo divórcio ou dissolução da união estável.
A relação começa com doçura, delicadeza e paixão. O casal vai construindo uma história que, muitas vezes é coroada

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com a chegada dos filhos. Assim, crescem no patrimônio, amadurecem em idade e emocionalmente. Passam-se 10, 15, 30 anos e de repente, ou não, a chave vira e o casamento passa a ser um peso que alguns alegam não mais suportar, seja pelo desgaste da relação, falta de inovações ou outros motivos.
Certo é que aquela relação não mais comporta as doses de paciência, tolerância e finalmente um ou os dois partem para a dissolução, o fim do matrimônio. E ai começam as discussões pela guarda de filhos, regulamentação de convivência, alimentos, patrimônio etc.
As narrativas apresentam aspectos comuns, algumas particularidades e muitas decepções. As pessoas reiteradamente dizem que desconheciam o parceiro com quem dividiu a vida e a intimidade.
Se, como advogados, observarmos a questão somente pelo aspecto legal, fica simples dizer quais são os direitos de cada um. Mas será que é só isso que devemos fazer?
Temos ali muito mais do que divisão de bens, determinação de pensão, convivência com filhos. Toda a situação está envolvida em uma camada abstrata, como se fosse uma aura, repleta de lembranças de tempos bons, de sorrisos, de leveza que não precisa ser destruída.
Ninguém é obrigado a se manter em uma relação que se tornou um peso, mas também não há necessidade de apagar o que foi bom. A vida é feita de experiências que se tornam memória que não se apaga. O mais interessante é que a memória não é apenas uma imagem e sim um conjunto de sentimentos, cheiros, cores, sons. Os momentos bons se introjetam na mente da mesma forma que os ruins, portanto , não parece razoável deixar que os últimos maculem os outros.

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Nós, os profissionais da advocacia, somos treinados na academia para a beligerância , brigar e mostrar que quem fala mais alto demonstra expertise , faz bonito para o cliente. Eu mesma já fui muito assim. Mas a maturidade profissional ensina que se pode resolver de formas diferentes, menos traumatizantes para todas as partes envolvidas e expertise se demonstra na cultura da conciliação, da paz. E mesmo que o litígio ocorra, a defesa do interesse da parte representada pode ser com leveza astuta, sem gerar qualquer prejuízo para o litigante que defendemos.
Atualmente os tribunais utilizam várias ferramentas técnicas sistêmica para auxiliar essa pacificação, o que aos poucos vem sendo aceito pelos profissionais e partes. A pandemia que ainda vivemos, ajudou muito na mudança de pensamento e reflexões do que realmente seja importante para cada um. Um mal que trouxe alguns resultados benéficos que não podem se perder, como por exemplo a valorização da vida e das relações.
Observa-se que ao longo da relação o casal para de dialogar e cada um vive um mundo isolado, como se aquele estado fosse imutável e eterno. Pequenas mágoas são armazenadas e um dia não tem mais espaço para nada. Daí vem a pergunta: Por que as pessoas param de namorar, de se enfeitar, de buscar reencantar o outro? Por que trocam a vida familiar pelos romances de internet , pelos bares, boates, baladas, religiões? Será que não é possível conciliar o mundo externo com a família? Obviamente com a exceção do romance extraconjugal, não é?
Retornando ao fim do casamento, nas discussões as pessoas dizem terem descoberto deslealdade, infidelidade, fraudes patrimoniais, alienações parentais, utilização dos filhos como armas e um universo de situações. Questões que deverão receber o acompanhamento profissional adequado. De qualquer forma, se não mais é possível manter o casamento, que as partes resolvam de forma madura o rompimento da relação e que se deem a cada um , nova chance de recomeçar sob novos parâmetros e com outros atores. Vale lembrar que e o processo caminha de forma menos aguerrida o resultado é mais rápido para todos.
Deixar o lixo que se acumulou na relação anterior para trás e seguir cada um com o que lhe é de direito.